É impressionante como militante não entende de fato o que está defendendo. Eles são como uma peça no tabuleiro que ajuda na repetição de fatos sem contexto. O pior é que fazem isso com tanta segurança, que quem assiste de fora até acredita que é verdade.
Estou escrevendo esse post porque estava conversando com uma pessoa próxima, que votou no PT na última eleição e chegou até a gravar aquele videozinho fazendo o L… mas que não tem a mínima ideia dos bastidores. Zero noção do que realmente aconteceu. E isso me incomoda, porque não é sobre partido. É sobre manipulação, estratégia e a forma como somos usados, muitas vezes sem perceber.
Se você achava que House of Cards era ousada demais pra ser verdade, é porque ainda não acompanhou a política brasileira de perto. Aqui, o roteiro é mais criativo, os personagens são reais, e o final nunca surpreende, só revolta.
Vamos falar a real: a estratégia que levou à libertação do Lula foi uma das mais engenhosas manobras políticas da história recente do Brasil. E quando eu digo engenhosa, não é elogio, é constatação. Se fosse filme, ninguém acreditaria no roteiro. Diria que é exagero, típico de quem quer provocar polêmica.
Mas não precisa exagerar. A realidade já é absurda o suficiente.
Lula foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Não por um juiz só. Não em um tribunal só. Ele passou por três instâncias diferentes, incluindo o STJ. No total, foram nove magistrados que confirmaram a condenação:
- Sérgio Moro na 1ª instância;
- três desembargadores do TRF-4, que não só mantiveram a condenação como aumentaram a pena;
- e cinco ministros do STJ, que ajustaram a pena para 8 anos e 10 meses, mas confirmaram os crimes.
Foram 580 dias de prisão em regime fechado.
Nada de prisão domiciliar, tornozeleira, ou cela VIP com hidromassagem. Foi cela de verdade. Na sede da Polícia Federal em Curitiba.
E durante os cinco anos em que o processo tramitou, nenhum ministro do STF levantou a mão pra dizer que tinha algo errado com a jurisdição de Curitiba.
Aí veio o ponto de virada.
Em março de 2021, dois anos depois da eleição que Bolsonaro foi eleito, o ministro Edson Fachin, do STF, decidiu que Curitiba nunca deveria ter julgado os casos. Que o lugar certo era Brasília. Não porque as provas fossem inválidas. Não porque as testemunhas mentiram. Mas porque, segundo ele, o foro era outro. E com isso, todos os processos voltaram à estaca zero.
Nada foi anulado no mérito. Nenhuma inocência foi declarada. Só resetaram o jogo.
Agora pensa comigo: Lula já estava com 75 anos. Processos complexos. Prazos apertados. Prescrição à vista.
Qual o próximo passo do plano? Simples: se candidatar à presidência.
Ganhando, ele garantiria foro privilegiado por mais quatro anos. Ou seja, blindagem total contra julgamentos na primeira instância, onde os processos teriam que recomeçar.
Mas quando o povo reagiu contra a libertação de Lula, afinal, a decisão foi monocrática, tomada por um ministro notoriamente militante do PT e indicado pela última presidenta petista, surgiu um novo argumento para tentar acalmar os ânimos: a tal parcialidade do juiz Sérgio Moro.
Uma justificativa adicionada depois, sem impacto direto nas provas ou nos fatos, mas com alto valor simbólico.
Serviu para esfriar a revolta popular e ganhar apoio da militância de esquerda, que precisava de uma narrativa nova para defender o indefensável.
O mais curioso? O presidente eleito diz abertamente que “a democracia é relativa”.
E ainda tem gente que se choca com o estado das instituições.
No fundo, a gente já entendeu o recado: aqui, quem tem estratégia não precisa ter razão. E quem tem cargo não precisa ter passado limpo.