Alexandre Pereira

Da cela à presidência: como se reescreve a história sem apagar as provas

É impressionante como militante não entende de fato o que está defendendo. Eles são como uma peça no tabuleiro que ajuda na repetição de fatos sem contexto. O pior é que fazem isso com tanta segurança, que quem assiste de fora até acredita que é verdade.

Estou escrevendo esse post porque estava conversando com uma pessoa próxima, que votou no PT na última eleição e chegou até a gravar aquele videozinho fazendo o L… mas que não tem a mínima ideia dos bastidores. Zero noção do que realmente aconteceu. E isso me incomoda, porque não é sobre partido. É sobre manipulação, estratégia e a forma como somos usados, muitas vezes sem perceber.

Se você achava que House of Cards era ousada demais pra ser verdade, é porque ainda não acompanhou a política brasileira de perto. Aqui, o roteiro é mais criativo, os personagens são reais, e o final nunca surpreende, só revolta.

Vamos falar a real: a estratégia que levou à libertação do Lula foi uma das mais engenhosas manobras políticas da história recente do Brasil. E quando eu digo engenhosa, não é elogio, é constatação. Se fosse filme, ninguém acreditaria no roteiro. Diria que é exagero, típico de quem quer provocar polêmica.

Mas não precisa exagerar. A realidade já é absurda o suficiente.

Lula foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Não por um juiz só. Não em um tribunal só. Ele passou por três instâncias diferentes, incluindo o STJ. No total, foram nove magistrados que confirmaram a condenação:

Foram 580 dias de prisão em regime fechado.

Nada de prisão domiciliar, tornozeleira, ou cela VIP com hidromassagem. Foi cela de verdade. Na sede da Polícia Federal em Curitiba.

E durante os cinco anos em que o processo tramitou, nenhum ministro do STF levantou a mão pra dizer que tinha algo errado com a jurisdição de Curitiba.

Aí veio o ponto de virada.

Em março de 2021, dois anos depois da eleição que Bolsonaro foi eleito, o ministro Edson Fachin, do STF, decidiu que Curitiba nunca deveria ter julgado os casos. Que o lugar certo era Brasília. Não porque as provas fossem inválidas. Não porque as testemunhas mentiram. Mas porque, segundo ele, o foro era outro. E com isso, todos os processos voltaram à estaca zero.

Nada foi anulado no mérito. Nenhuma inocência foi declarada. Só resetaram o jogo.

Agora pensa comigo: Lula já estava com 75 anos. Processos complexos. Prazos apertados. Prescrição à vista.

Qual o próximo passo do plano? Simples: se candidatar à presidência.

Ganhando, ele garantiria foro privilegiado por mais quatro anos. Ou seja, blindagem total contra julgamentos na primeira instância, onde os processos teriam que recomeçar.

Mas quando o povo reagiu contra a libertação de Lula, afinal, a decisão foi monocrática, tomada por um ministro notoriamente militante do PT e indicado pela última presidenta petista, surgiu um novo argumento para tentar acalmar os ânimos: a tal parcialidade do juiz Sérgio Moro.

Uma justificativa adicionada depois, sem impacto direto nas provas ou nos fatos, mas com alto valor simbólico.

Serviu para esfriar a revolta popular e ganhar apoio da militância de esquerda, que precisava de uma narrativa nova para defender o indefensável.

O mais curioso? O presidente eleito diz abertamente que “a democracia é relativa”.

E ainda tem gente que se choca com o estado das instituições.

No fundo, a gente já entendeu o recado: aqui, quem tem estratégia não precisa ter razão. E quem tem cargo não precisa ter passado limpo.

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